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segunda-feira, 24 de junho de 2013

GRUPO TERAPÊUTICO EM ARTETERAPIA

“A experiência criativa nos ‘transpassa’ e permite que ‘transbordemos’ e atravessemos limites e interdições, resgatando ‘notícias de nós mesmos’ nem sempre claras e acessíveis...” Ângela Philipini *

            Tenho trabalhado com grupos terapêuticos em arteterapia nos últimos três anos e tenho me motivado cada vez mais com esta proposta. Sem dúvida, esta modalidade terapêutica tem seus desafios mas seus benefícios também são notórios.
            É muito gratificante acompanhar pacientes que em sua trajetória, mergulham nesta proposta terapêutica que promove o retorno do olhar para si mesmo, o autoconhecimento e o desenvolvimento pessoal. Mas paralelamente, por se realizar em grupo, torna-se um lugar de reflexão sobre autoimagem, como o sujeito se relaciona e seus vínculos afetivos. O diferencial do grupo terapêutico em arteterapia  está no fato de que para além da terapia em grupo, este é um ambiente em que se faz um convite à expressão de forma rica em recursos, pelo uso da criatividade, através das mais variadas linguagens da arte.
            Um novo grupo terapêutico em arteterapia estou formando para o 2º semestre, juntamente com minha amiga arteterapeuta Flávia Hargreaves. Se você tiver interesse em conhecer mais sobre esta proposta é só entrar em contato.
Eliana Moraes elianapsiarte@gmail.com


segunda-feira, 17 de junho de 2013

REPETIÇÃO CRIATIVA

            Tenho observado alguns pacientes que em psicoterapia relatam verbalmente sua questão e estes relatos se repetem, repetem, sessão após sessão. Não é raro estes mesmos pacientes se incomodarem com esta repetição verbal e trazerem a sensação de que “não estão saindo do lugar”.
            De fato, por algum motivo estes pacientes estão presos ali e esta repetição faz parte do processo terapêutico. É necessário repetir. Tenho feito críticas ao trabalho de psicoterapia que de forma ansiosa e sem respeitar o tempo e as possibilidades do paciente, tenta tirá-lo deste lugar de repetição verbal.
            Percebo que a arteterapia é um recurso muito interessante para este fenômeno, pois através da sua riqueza de possibilidades expressivas possibilita uma “Repetição Criativa”. Ângela Philippini* diz:

“... esta questão poderá ser repetida através de uma infinidade de atividades plásticas expressivas diferentes, quantas vezes sejam necessárias, para permitir o livre trânsito dos conteúdos inconscientes rumo à consciência.” (PHILIPPINI)

            Repetir através da escrita criativa, por imagens, pinturas, desenhos, colagens, esculturas... As reflexões do paciente sobre a questão que se repete ganham fôlego através de tantas possibilidades da “Repetição Criativa”.
            Em um segundo momento, a arteterapia também pode responder à sensação de “não estar saindo do lugar”, ao proporcionar ao paciente recursos  de mudança de perspectiva e mudança de movimentos em cada trabalho. Nas palavras de Maria Cristina Urrutigaray**:

“A cada `elemento estranho` pede-se ao paciente que tente reproduzir sozinho, em outra organização, dando-lhe uma dimensão maior, mais amplificada de seu estado original. A cada ampliação resultante, realizam-se novas visualizações, novas análises. E, a cada interpretação efetuada, mais o sujeito se aproxima de um estado de interiorização e de busca pela sua integração.”

Referências Bibliográficas:

PHILIPPINI, Angela. ”Linguagens e Materiais Expressivos em Arteterapia: Uso, Indicações e Propriedades”

URRUTIGARAY, Maria Cristina. “Arteterapia – A transformação pessoal pelas imagens” 

segunda-feira, 10 de junho de 2013

CORAGEM

            Recentemente eu estava coordenando um grupo terapêutico em arteterapia. A proposta era trabalhar em cima de uma imagem, continuando-a no papel, utilizando tintas de cores variadas. Uma das participantes perguntava:
- Mas vamos trabalhar com qual cor?
- Todas as cores disponíveis sobre a mesa.
- Todas essas cores?... Vamos trabalhar também com verde? E com azul? Nossa, todas essas cores?...
E ela começou a fazer seu trabalho. Enquanto fazia, dizia:
- Quando eu era pequena e tinha aula de artes, a professora dizia: “Hoje vamos trabalhar com o azul. Amanhã vamos trabalhar com verde.” E hoje na aula de artesanato a professora fala: “Hoje vamos trabalhar com guardanapo, vamos trabalhar com este desenho.” E aqui tem tantas possibilidades que fica difícil começar.
            Fiquei intrigada com estas palavras, ao pensar no paradoxo de que em aulas de arte, a criatividade e espontaneidade foram e ainda são tão tolidas. Em arteterapia o paciente tem a oportunidade de buscar dentro de si as cores e as formas que lhe fazem sentido, que são aceitáveis em suas próprias leis de perspectiva e estética.
            Veio-me a lembrança, a conhecida frase de Sartre: “O homem está condenado a ser livre.” É bom ser livre. Mas isso me causa angústia pois implica que eu faça escolhas e preciso me responsabilizar por elas.
Talvez por isto, em arteterapia, o papel em branco cause angústia em muitos pacientes (Ver texto “A angústia do papel em branco”), pois ali está o vazio, e com ele inúmeras possibilidades que só o paciente poderá escolher. Quando alguém decide pelo sujeito a cor ou o material que será usado, ele é poupado da responsabilidade, mas também lhe é roubada a liberdade da escolha. Está dinâmica é muito propícia para que o paciente se pense sobre sua dinâmica frente às escolhas da vida, sua postura em responsabilizar-se ou não por suas escolhas.
Além disto, cito aqui Maria Cristina Urrugaray, que muito me chamou a atenção quando em seu livro* diz que em arteterapia faz-se um convite à “tornar-se autor de suas expressões”.
Ao final do encontro, perguntei à paciente como ela estava se sentindo, e ela respondeu:
- Eu gosto porque aqui eu estou tendo a coragem de colocar no papel o que eu quero.


* ”Arteterapia – A transformação pessoal pelas imagens”

segunda-feira, 3 de junho de 2013

"DO ESPIRITUAL NA ARTE"

“A cor [ e/ou a forma ] é a tecla. O olho é o martelo. A alma é o piano de inúmeras cordas. Quanto ao artista, é a mão que, com a ajuda desta ou daquela tecla, obtém da alma a vibração certa.” Kandinsky
           
            Desde que fui apresentada ao livro “Do Espiritual na Arte”  (1954) escrito pelo artista Kandinsky, estou encantada, lendo e relendo-o. Penso que todo arteterapeuta deveria se debruçar sobre este livro que, muito antes de surgir a técnica da arteterapia, já fala do quão profunda e pessoal é a experiência de se fazer arte. Nas palavras do autor:

“Cada quadro encerra misteriosamente toda uma vida, uma vida com seus sofrimentos, suas dúvidas, suas horas de entusiasmo e de luz.
Para onde tende essa vida? Para quem se volta a alma angustiada do artista, quando, também ela, participa de sua atividade criadora? O que ela quer anunciar? `Projetar a luz nas profundezas do coração humano, eis a vocação do artista` escreveu Shumann.” (p. 29)
           
Ratificando a proposta do nome deste blog, “não-palavra” (ver em “Descrição do Blog”) Kandisky fala do potencial da arte de expressar sentimentos tão profundos, aos quais as palavras não podem alcançar:

“Os sentimentos elementares como o medo, a tristeza, a alegria, que teriam podido... servir de conteúdo para a arte, atrairão pouco o artista. Ele se esforçará por despertar sentimentos mais matizados, ainda sem nome. O próprio artista vive uma existência completa, relativamente requintada, e a obra nascida de seu cérebro, provocará no espectador capaz de experimentá-las, emoções mais delicadas, que nossa linguagem é incapaz de exprimir.” (p. 28)

            Este artista acredita que o fazer arte proporciona uma experiência tão demasiadamente profunda, que ele a chama de “espiritual”:

 “A vida espiritual, a que a arte também pertence e de que é um dos mais poderosos agentes, traduz-se num movimento para a frente e para o alto, complexo mais nítido, e que pode reduzir-se a um elemento simples. É o próprio movimento do conhecimento. Seja qual for a forma que adote, conserva o mesmo sentido profundo e a mesma finalidade.” (p 31)

Ele faz uma crítica à “arte pela arte”, que é contemplada com um olhar frio e uma alma indiferente. E propõe uma “Mudança de Rumo Espiritual” na arte:


“Quem quer que mergulhe nas profundezas de sua arte, em busca de tesouros invisíveis, trabalha para erguer essa pirâmide espiritual que chegará ao céu”. (p. 37)

Em breve trarei mais referências deste livro aqui no blog. Por hora, convido você a ler este livro que tem me proporcionado uma profunda experiência “espiritual na arte”.