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segunda-feira, 13 de maio de 2013

DIVÃ E ARTETERAPIA


           Quando se pensa em um setting psicanalítico automaticamente nossa mente remete-se à um divã. Tão criticado ou tão adorado, este é um dos pilares desta técnica. Bem a grosso modo, a importância do divã está no fato de que deitado, de costas para o analista, o paciente não poderá buscar em seu olhar qualquer sinal, seja de aprovação, espanto, decepção, ou que busque nele uma “resposta”. Isto faz com que o paciente vá trilhando um caminho muito próprio e que a partir da associação livre vá adentrando por caminhos desconhecidos e profundos que lhe pertencem. Ao analista cabe o papel de fazer algumas intervenções, como que se estivesse balizando este caminhar. Fica aí o desafio do paciente de se responsabilizar por sua caminhada e o desafio de analista de  que com suas teorias e técnicas (e ansiedades) não atropele os passos de seus pacientes.
Eis aí algo que aprendi com a psicanálise! Dar passagem para que cada vez mais meus pacientes caminhem com as próprias pernas em suas reflexões no processo terapêutico. A medida que vão encontrando o caminho, vou me calando, permitindo-os a “ir”. Neste contexto, de fato, a ausência do “olho no olho” faz diferença.
Minha motivação para escrever este texto veio ao atender uma paciente com queixas de sintomas depressivos e psicossomáticos.  Esta paciente já havia ido a várias especialidades médicas. “Nenhum remédio faz efeito, nada melhora”.  Após algumas sessões comigo, minha sensação era de que a  consulta comigo era como mais um médico ao qual ela se queixava de seus sintomas e em seguida perguntava: “E então, o que eu tenho que fazer para melhorar?” Os atendimentos eram difíceis, o discurso “cortado”, limitando-se à responder minhas perguntas. As sessões estavam tornando-se sem sentido para a paciente e confesso, eu mesma me questionava sobre meu trabalho com ela.
Até que um dia decidi lançar mão de um simples desenho em branco e lápis de cor. E pedi que enquanto conversávamos, que fosse colorindo a imagem...
Que sessão interessante!!!! Enquanto a paciente olhava para o desenho e o pintava, pôde me dizer coisas nunca antes ditas, como seu medo de ficar sozinha desde quando criança e como tem medo de ficar sozinha agora na velhice. Tenho a impressão que não estar olhando nos meus olhos, aguardando meu “parecer”, possibilitou que ela pudesse dar os primeiros (próprios) passos em seu caminho de autoconhecimento.

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