Por Vera deFreitas - RJ
As obras da artista plástica
brasileira e contemporânea Beatriz Milhazes (1960), são compostas por pinturas,
colagens, gravuras, xilogravura, serigrafia, móbile e técnica mista. Elas trazem
um estilo próprio e múltiplos elementos que se integram e se harmonizam de
forma organizada e equilibrada. Com liberdade criativa, Milhazes mistura
abstração, geometria, modernismo, pop art, concreto e neoconcretismo, valorizando
a expressividade, a sensibilidade, e a subjetividade.
Trabalha
com cores intensas, formas e padronagens que atraem olhares e intensificam
sensações. A artista investe na produção manual, na confecção, na montagem e na
pesquisa de novas técnicas e materiais diversos. Busca recursos, possibilidades
e soluções. E assim constrói o seu mundo, um caminho autoral, uma identidade
criativa.
Suas obras são construídas por
camadas sobrepostas de cores, formas, elementos e materiais diversos, possuindo
a complexidade da técnica mista (mixed media), a partir de coisas simples. A
simplicidade e a infinita complexidade se encontram em suas obras, que
apresentam uma beleza exuberante e colorida.
Beatriz Milhazes se inspira inicialmente
na artista Tarsila do Amaral, também brasileira, com suas pinturas que
expressam a possibilidade de pensar uma linguagem pessoal, o seu estilo de
criar. Em suas colagens ela integra embalagens de doces e chocolates, cartões,
tickets, ingressos e objetos do cotidiano, que pertencem à vida real e são, a
princípio, estranhos ao trabalho artístico. Contudo, esses objetos representam
valiosos relicários que não devem ser esquecidos, transformando trabalhos
carregados de significados, simbolismos e histórias.
As propriedades e qualidades das
obras e dos processos criativos da artista, nos remetem aos benefícios da
Arteterapia, como a representação da expressividade, da liberdade e da
criatividade. Suas obras retratam a identidade, a singularidade e a
subjetividade, falando do indivíduo e da alma humana.
A história e sua arte de Beatriz
Milhazes servem de inúmeras inspirações, apoio e embasamento para as atividades
plásticas e expressivas no processo arteterapêutico, a partir da diversidade de
linguagens e materiais utilizados em camadas, numa produção plástica – técnica
mista. Proporcionando muita prática e experimentação, buscando soluções
criativas, autonomia e liberdade de expressão, ampliando e aprofundando o
olhar, acessando questões importantes como o autoconhecimento e facilitando o encontro
consigo mesmo.
Experiência pessoal
Segundo Beatriz Milhazes, numa
tela em branco pode-se construir seu mundo, desenvolver suas ideias e
conceitos. Foi a partir disso que baseei minhas experimentações e estudos
monográficos do curso de Pós-graduação (2019), pela Pomar/Favi, sobre
estratégias expressivas em técnica mista, ativando o processo criativo em
Arteterapia.
Verifiquei o potencial curativo e
terapêutico pela utilização do método criado, partindo do pressuposto que o
processo criativo pode ser organizador, restaurador, recuperador e liberador do
fluxo de energia psíquica, levando ao bem-estar, à expressividade e à saúde. Fui
criando imagens, utilizando diversas linguagens na mesma produção, como pintura,
desenho com materiais variados, colagens de revistas e de papéis diversos, e inserindo
objetos (botões, rendas, plantas e flores naturais e artificiais etc.). Foram
muitas experimentações, criações e novas possibilidades.
Prática arteterapêutica
A partir de uma metodologia
criativa, com orientação e supervisão, montei um Projeto Piloto, de 4 encontros
para 4 grupos distintos, com um total de 35 participantes. Os resultados dessa
experiência foram muitas atividades e produções expressivas. Os participantes
perceberam seus estilos de criar, possibilidades, caminhos e encontros.
Entenderam o trabalho em etapas, precisando de tempo para compor, gestar e formar.
Experenciaram o caminho do “fazer arte”, o caminho que seguimos para dentro,
para encontrar a criatividade e a alegria de praticar a sua forma de criar.
Construíram um estilo próprio, buscaram sua singularidade e seu aprimoramento.
Se descobriram e se encontraram. Trabalharam a integração, a estruturação, a organização
e a composição.
Assim, como as obras de Beatriz
Milhazes, que trazem todos esses conceitos, além da liberdade de criar a
própria ordem, e ainda sugerem a ideia de abundância, tornando a vida mais bela
e agradável.
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Sobre a autora: Vera de Freitas
Advogada, Fomação e Pós Graduação em Arteterapia e Envelhecimento Ativo, Subjetividade e Arte(POMAR).
Administradora do Instituto VENHA CONOSCO - Tijuca, RJ
Professora de Iniciação Artística - Instituto ZECA PAGODINHO
Professora de Ateliê Terapêutico/Curso de Formação - POMAR
Diretora Administrativa da AARJ
Facilitadora de Grupo de Arteterapia para adultos e Grupo de Desenho Livre.
Ateliê de PAPEL MACHÊ e Diário Criativo.