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segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

MINHAS OFERTAS (AO MUNDO): Fechando 2018 à inspiração de Cora Coralina



Eliana Moraes (MG) RJ
Instagram @naopalavra

“Feliz é aquele que compartilha o que sabe e aprende o que ensina.” Cora Coralina

Feliz, assim recebo dezembro e o final de 2018. Para o Não Palavra Arteterapia, este foi um ano de muito trabalho e (a palavra que mais se repete em minha mente) consolidação. Neste ano germinaram muitas sementes há muito tempo plantadas, sementes que tinham seu tempo próprio para fazer germinar e brotar. Brotaram. 

Todo este processo, fundamentado no desejo de compartilhar os estudos e práticas daquilo que move meu senso de missão neste mundo: a Arteterapia. Em um ano tão conturbado em nosso social, a cada momento confirmava a certeza de que o mundo necessita de arte, e minha contribuição é oferecê-la através da Arteterapia, além de instigar arteterapeutas para que também o façam. Acredito que o conhecimento só se faz quando compartilhado. E acredito que o conhecimento da Arteterapia deve ser multiplicado por sua tamanha importância. Esta é a raiz do meu desejo: ofertar aquilo que aprendo.



Potencializando este caminho de ofertas, encontrei parceiros ao longo do caminho aos quais, sem eles, não seria possível. Neste ano o Não Palavra Arteterapia agregou em sua equipe a Laila Alves de Souza como gestora dos projetos e redes sociais e a Patrícia Serrano como gestora de materiais e arquivo. Larissa Kouzmin-korovaeff da Semente Editorial, parceira que generosamente abriu as portas para aumentar o alcance de minha escrita através do livro “Pensando a Arteterapia”. Além dos espaços virtuais, berço do Não Palavra, em 2018 expandimos territórios geográficos: além do Espaço Não Palavra em Copacabana, firmamos a parceria com Vera de Freitas do Espaço Venha Conosco na Tijuca- RJ e com a Regina Célia Rasmussen do Espaço Crisântemo de São Paulo.  

Quanto ao blog, o consolidamos como um espaço colaborativo. Um espaço de compartilhamento de reflexões, pensamentos, experiências. Neste ano, foram ao todo 42 textos, e esta construção só foi possível com a colaboração de Valéria Diniz, Juliana Mello. Laila Alves de Souza, Tania Salete, Daniele Pereira Schnorrenberger, Suzane Guedes, Vera de Freitas, Hellen Faria, Liane Esteves, Andréa Goulart de Carvalho, Fabiana Juvencio, Cristina Costa, Flávia Amancio de Oliveira, Juliana Ohy. Cada autor contribuiu com a sua abordagem teórica, sua perspectiva, seu olhar e estilo para a Arteterapia, que acredito ser tão rica, tão plural, tão potente!

Cabe mencionar também todos aqueles que participaram dos encontros, palestras, eventos e grupos estudos do Não Palavra ao longo do ano. Pude conhecer muitas pessoas interessadas, engajadas, investidas e desejosas da Arteterapia. Pessoas aos quais pude ofertar aquilo que construí e receber aquilo que me move. Toda gratidão à uma rede lindamente construída, tecida por afeto, comprometimento, idealismo e arte. 

Ao fechar este ano só posso agradecer a cada pessoa que colaborou para sua construção. Ao pensar no que dizê-las, me faltaram palavras, mas pude encontrar em Cora Coralina os versos que falassem por mim. Cada um destes versos resume aquilo que trago no peito e com eles damos início à um período sabático para o blog, que se estenderá até 4 de fevereiro de 2019. Neste dia, o blog Não Palavra retornará com novos textos, novas reflexões, novas energias e você faz parte desta construção. Por hora, é tempo de descansar e restaurar a terra para que acolha, sustente e alimente a muitos, em um ano que tanto nos solicitará. Até lá, que o som da poesia reverbere em nós! 

OFERTAS DE ANINHA (AOS MOÇOS)



Eu sou aquela mulher
a quem o tempo
muito ensinou.
Ensinou a amar a vida.
Não desistir da luta.
Recomeçar na derrota.
Renunciar a palavras e pensamentos negativos.
Acreditar nos valores humanos.
Ser otimista.
Creio numa força imanente
que vai ligando a família humana
numa corrente luminosa
de fraternidade universal.
Creio na solidariedade humana.
Creio na superação dos erros
e angústias do presente.
Acredito nos moços.
Exalto sua confiança,
generosidade e idealismo.
Creio nos milagres da ciência
e na descoberta de uma profilaxia
futuras dos erros e violências do presente.
Aprendi que mais vale lutar
do que recolher dinheiro fácil.
Antes acreditar do que duvidar. 

Cora Coralina

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Sobre a autora: Eliana Moraes



Arteterapeuta e Psicóloga. 
Especialista em Gerontologia e saúde do idoso e cursando MBA em História da Arte.
Fundadora e coordenadora do "Não Palavra Arteterapia".
Escreve e ministra cursos, palestras e supervisões sobre as teorias e práticas da Arteterapia. 
Atendimentos clínicos individuais e grupais em Arteterapia.Nascida em Minas Gerais, coordena o Espaço Não Palavra no Rio de Janeiro.
Autora do livro "Pensando a Arteterapia" CLIQUE AQUI

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

“ARTE COMO TERAPIA”: Leituras, reflexões e comentários



Por Eliana Moraes (MG) RJ
Instagram: @naopalavra


Tenho estimulado o estudo da ARTE aos arteterapeutas e estudantes. Em minha jornada profissional, o mergulho no estudo da arte foi o grande pulo do gato para que eu migrasse de uma psicóloga que utilizava de técnicas expressivas para uma arteterapeuta propriamente dita, e assim me encontrei profissionalmente.
Neste sentido tenho sustentado o grupo de estudos “Teorias da Arte e Arteterapia” e tem sido um espaço muito potente de pesquisa, troca, aprendizado, aplicações e teorizações, para cada participante, incluindo-me.  
Percebo que não apenas na formação de Arteterapia, mas em diversos seguimentos que contemplam a disciplina História da Arte, o conteúdo transmitido academicamente se dá de forma racionalizada, impessoal e pouquíssimo contextualizado ou aplicável ao ouvinte e sua área de interesse. Estudar História da Arte é muito mais do que absorver datas, períodos, (apenas) pinturas e nomes de artistas. Ali existe um verdadeiro universo a ser explorado, verdadeiramente compreendido e aplicado como ensinamentos ou inspirações para nossa vida prática e atual, em diversos contextos e seguimentos. Basta desenvolvermos nosso olhar e escuta da maneira apropriada. 
No caminho de estudar História da Arte para dialoga-la com a Arteterapia, me deparei com o livro “Arte como Terapia”, que muito enriqueceu meu estudo. Hoje trago alguns fragmentos e comentários deste livro, ao qual recomento a leitura aos arteterapeutas, pois com sua linguagem tão acessível e próxima do leitor, corrobora com este pensamento:
“Este livro sugere outra abordagem. Os especialistas deviam pensar em como conectar melhor o espírito das obras que admiram às fragilidades psicológicas dos seus ouvintes... A essa luz, os acadêmicos tratariam... todas as obras de arte com a seguinte pergunta humana: ‘Quais lições você está tentando nos ensinar que podem nos ajudar na vida?’ Qualquer coisa que não seja isso, por mais inteligente e carregada de informação que seja, não passaria de mera preparação ou distração.“ pag 87
É importante ressaltar que, embora o livro traga em seu nome “A Arte como terapia”, ele não contempla a perspectiva ao qual o arteterapeuta está habituado: o fazer arte, o ato criativo, o sujeito em contato direto com os materiais e a criação. Sua reflexão se dirige ao potencial terapêutico de se contemplar uma obra de arte, tendo o sujeito como espectador e fruidor da obra:
“... a arte tem o poder de ampliar nossas capacidades para além dos limites originalmente impostos pela natureza. A arte compensa algumas de nossas fraquezas inatas, nesse caso, mais mentais do que físicas, fraquezas que podemos chamar de fragilidades psicológicas. 
Aqui, propomos que a arte... é um meio terapêutico que pode ajudar a guiar, incentivar e consolar o  espectador, permitindo-lhe evoluir.” Pag 5 

De fato, seus autores, Alain de Botton e John Armstrong falam do campo da filosofia e não do campo psi. Ao longo do livro, fica claro que os conteúdos abordados pelos autores são problemas da filosofia, como o amor, a natureza, o dinheiro e a política, além de ficar nítido não haver alguma teoria da psicologia para embasar suas reflexões. 
De toda forma, os temas abordados, profundamente humanos, e a maneira de expô-los são extremamente ricos para instrumentalizar nossa escuta clínica – individual e coletiva – enquanto nos coloca em contato direto com obras de arte que dialogam com questões humanas variadas. 
Nesta perspectiva, os autores apontam cinco possíveis leituras da arte: leitura técnica, leitura política, leitura histórica, leitura do caráter contestador e por fim uma leitura terapêutica, proposta por eles:
“Este livro apresenta um quinto critério para julgar a arte: ela pode ser importante por nos ajudar de maneira terapêutica... A adoção desse quinto critério traz uma série de consequências para o entendimento do cânone. Tal leitura permite esboçar o que pode estar acontecendo no nosso íntimo quando dizemos que uma obra é boa ou ruim. Podemos acabar gostando das mesmas obras consideradas importantes pelas outras leituras, mas será por motivos diferentes: porque ajudaram a nossa alma. Obter algo com a arte não significará apenas aprendermos a seu respeito, mas também uma autoinvestigação. Teremos de estar dispostos a olhar dentro de nós mesmos, reagir ao que vemos. A arte será considerada boa ou ruim não per se, mas para nós...” pag 72
Embora os autores não tragam formalmente o conceito de projeção, percebemos que em todo tempo, fazem referência a este fenômeno: quando o sujeito tem um encontro com um objeto e nele deposita conteúdos inconscientes para si, animando-o e elevando-o à condição de uma espécie de espelho, ao qual tem a capacidade de iluminar e trazer para a consciência aquilo que ele não se reconhece:
“... de vez em quando, topamos com obras de arte que parecem agarrar algo que sentimos, mas que nunca havíamos notado com clareza. Alexander Pope identificou como função central da poesia tomar os pensamentos que sentimos incompletos e lhes dar expressão clara: aquilo que ‘era pensado com frequência, mas nunca tão bem expressado’. Em outras palavras, uma parte esquiva e fugidia do nosso pensamento, da nossa experiência, é pega, editada e devolvida a nós melhor do que era antes, de forma que enfim sentimos que nos conhecemos com mais nitidez.” Pag 44
Sendo assim, a arte atuaria como: 
“Um guia para o autoconhecimento: A arte pode nos ajudar a identificar o que é central para nós, mas difícil de expressar em palavras. Boa parte do que é humano não está prontamente acessível na linguagem. Podemos segurar um objeto artístico e dizer, de maneira confusa mas significativa: ‘Isso sou eu’.” Pag 65
Ao longo do livro, fica clara a perspectiva otimista pelo qual os autores visualizam e abordam os temas e manifestações artísticas (ao meu ver, até um pouco excessiva. Por outro lado, eu também acredito que uma boa dose de otimismo é bem-vinda nos dias atuais). Ainda assim, eles não deixam de mencionar os momentos em que as expressões artísticas podem nos causar estranheza, desconforto e incômodo: 
“O envolvimento com a arte é útil porque nos apresenta exemplos vigorosos do tipo de material estranho que aciona as defesas de tédio e medo e nos concede tempo e privacidade para aprendermos a lidar de forma mais estratégica com isso. Um primeiro e importante passo para superar a posição defensiva diante da arte é nos tornarmos mais receptivos à estranheza que sentimos em certos contextos. Não precisamos nos odiar por causa disso: muitas obras de arte, afinal, resultam de concepções de mundo radicalmente distintas da nossa.” Pag 53
Sem mencionar diretamente o conceito de sombra, os autores refletem sobre a importância de nos expormos àquilo que nos é estranho para que possamos nos (re)conhecer e assim crescer como seres humanos: 
“A arte que começa nos parecendo estranha é valiosa porque nos apresenta ideias e atitudes que dificilmente encontraríamos em nosso ambiente costumeiro e que nos são necessárias para termos pleno envolvimento com nossa humanidade... elas continuarão adormecidas até serem atiçadas, espicaçadas e provocadas de modo útil pelo mundo... É quando encontramos pontos de contato com o desconhecido que somos capazes de crescer.” pag 58
Este livro nos presenteia com inúmeras reflexões relativas ao campo da arte aplicada à vida cotidiana que em próximos textos pretendo mencionar e reitero o convite desta leitura aos arteterapeutas e estudantes. Por hoje, encerro com um dos benefícios terapêuticos à contemplação de obras de arte, desenvolvidos pelos autores, o sensibilizar. Pois a arte é:
“Um instrumento de recuperação da sensibilidade: A arte remove nossa casca e nos salva do habitual descaso pelo que está ao redor. Recuperamos a sensibilidade; olhamos o velho de novas maneiras.” pag 65 

Caso você tenha se identificado com a proposta do “Não palavra abre as portas” e se sinta motivado a aceitar o nosso convite, escreva para naopalavra@gmail.com
Assim poderemos iniciar nosso contato para maiores esclarecimentos quanto à proposta, ao formato do texto e quem sabe para um amadurecimento da sua ideia.

A Equipe Não Palavra te aguarda!
Referência Bibliográfica: 
BOTTON, Alain de & ARMSTRONG, John. Arte como terapia. Editora Intrínseca, Rio de Janeiro, 2014. 
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Sobre a autora: Eliana Moraes


Arteterapeuta e Psicóloga. 
Especialista em Gerontologia e saúde do idoso e cursando MBA em História da Arte.
Fundadora e coordenadora do "Não Palavra Arteterapia".
Escreve e ministra cursos, palestras e supervisões sobre as teorias e práticas da Arteterapia. 
Atendimentos clínicos individuais e grupais em Arteterapia.Nascida em Minas Gerais, coordena o Espaço Não Palavra no Rio de Janeiro.
Autora do livro "Pensando a Arteterapia" CLIQUE AQUI