Hoje o Não Palavra abre as portas para Juliana Ohy, psicóloga e arteterapeuta da cidade de Niterói, que desenvolve um belo trabalho e pesquisa quanto ao diálogo entre a Arteterapia e as Neurociências. Eu, sempre simpática à pluralidade das referências teóricas para a Arteterapia e acreditando na possibilidade de agregar outros olhares, encontrei um enriquecimento para minha prática com idosos nos cursos de Juliana sobre o grande potencial da arte para a estimulação cognitiva. Agradeço à Juliana por tudo que aprendi com ela até aqui, e recomendo aos amigos do Não Palavra que conheçam um pouco mais do vasto campo de possibilidades que se abre quando a Arteterapia e as Neurociências dialogam.
Eliana Moraes
Por Juliana Ohy
Site: www.julianaohy.com.br
Email: julianaohy@gmail.com
Quem ouve falar da Arteterapia não
imagina quão vasta ela pode ser e até onde podem alcançar seus lindos saberes!
A Neurociência associada a
Arteterapia, pode contribuir muito no prognóstico de doenças e comprometimentos
que envolvam as emoções e a cognição. Entender o ser humano como um ser
integral cinge também observar suas vicissitudes emocionais e cognitivas.
Atualmente, quanto mais completa for
a intervenção, maior o alcance de conseguimos resultados mais significados no
tratamento ou no processo terapêutico.
A Arteterapia, é “um método que tem a capacidade de
possibilitar a exploração de problemas e de capacidades pessoais através da
expressão verbal e não verbal” (MARTINIE et al, 2016). É através do afeto,
da emoção e de técnicas expressivas que resultados terapêuticos e de
reabilitação podem ser obtidos.
Pesquisas vem demonstrando uma maior
comunicação e integração entre os sistemas de processos afetivos e cognitivos,
especialmente em níveis corticais superiores. Ou seja, há uma integração
funcional entre os dois sistemas que permite um papel modulador dos afetos na
cognição. O que se percebe é que o isolamento de processos
cognitivos “puros” e, de certo modo, de processos afetivos “puros” seria
praticamente impossível quando se estuda a cognição (CAGNIN, 2008).
Estudos da neurociência apontam para os efeitos
não apenas da arte, mas da Arteterapia no sistema nervoso e consequentemente
sua influência nos sistemas orgânicos do ser humano. Ela possibilita a
mobilização da plasticidade neural, assim como desencadeia neurotransmissores
capazes de atuar sobre o sistema imunológico, o humor e sensações como a dor,
por exemplo (FONSECA, WEDKIN, 2011).
“Experiências
criativas são reconhecidas por na realidade aumentar o funcionamento e
estrutura cerebrais. Exames neurológicos revelaram aumento do fluxo sanguíneo
para o cérebro durante períodos de pensamento criativo. Qualquer atividade
criativa, que seja prazerosa, eleva aos padrões de onda cerebral alpha típicos
do estado de alerta tranquilo, o estado consciente, porém relaxado encontrado
na meditação. A Serotonina, química em nossos corpos que alivia sentimentos de
depressão, também aumenta durante atividade criativa. Programas de arte terapêutica
em hospitais demonstraram fornecer muitos benefícios, incluindo redução do
estresse, melhorando a capacidade de comunicar sentimentos sobre sintomas e
melhoramento da pressão sanguínea, frequência cardíaca e respiratória através
da exposição às artes” (CHOPRA, 1993,
apud FONSECA, WEDKIN, 2011).
Se temos um método que trabalha
diretamente com os afetos e outro com a cognição e prezamos por uma intervenção
terapêutica do ser integral, por que não unirmos essas duas fantásticas áreas?
O Instituto da Mente, localizado em
Niterói (RJ), oferece oficinas de estimulação e reabilitação cognitiva para
grupos de idosos. As oficinas utilizam técnicas diversas para que a atividade
neural seja trabalhada da melhor forma. Uma das oficinas é a de Arteterapia e o
que sempre me perguntam é se conseguimos resultados positivos no prognóstico
desses clientes.
Cabe analisarmos que, um idoso com
doença neurodegenerativa, não terá melhora cognitiva, porém poderá alcançar
benefícios na sua qualidade de vida.
O que percebemos com os idosos do
Instituto da Mente, é que com a prática da Arteterapia, muitos deles conseguem
se organizar melhor, ter mais controle percepto-motor, a funcionalidade nas
atividades de vida diária melhora, além do humor mais equilibrado.
Assim, a resposta que posso dar é
que a Arteterapia não pode intervir diretamente no impedimento da morte dos
neurônios de uma doença neurodegenerativa, mas indiretamente, atuando no
emocional desses idosos, uma estabilização e melhora da qualidade de vida são
certamente alcançadas.
Caso você tenha se identificado com a proposta do “Não palavra abre as portas” e se sinta motivado a aceitar o nosso convite, escreva para naopalavra@gmail.com
Assim poderemos iniciar nosso contato para maiores esclarecimentos quanto à proposta, ao formato do texto e quem sabe para um amadurecimento da sua ideia.
A Equipe Não Palavra te aguarda!
Referências Bibliográficas:
CAGNIN, Simone. Algumas contribuições das
neurociências para o estudo da relação entre o afeto e a cognição. Estud.
pesqui. psicol., Rio de Janeiro, v.8, n.2, ago. 2008.
Disponível em http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-42812008000200023&lng=pt&nrm=iso.
FONSECA, Rafael Ayrton
Lucena; WEDEKIN, Luana Maribele. 4-O USO DA ARTETERAPIA SOMÁTICA EM CASOS DE
DOR CRÔNICA NO CONTEXTO NATUROLÓGICO. Ano 7-Volume 13-Número
13-Julho–Dezembro-2011 Revista Científica de Arteterapia Cores da Vida, p.
38.
MARTINIE,
Josy Mariane Thaler; JUNQUEIRA CARVALHO FILHA, Maria Tereza; MENTA, Sandra
Aiache. Arteterapia: recurso terapêutico ocupacional na terceira idade. Multitemas,
[S.l.], maio 2016. ISSN 2447-9276. Disponível em: <http://www.multitemas.ucdb.br/article/view/843.
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Sobre a autora:
Juliana Ohy
Psicóloga,
Arteterapeuta, Psicopedagoga, Especializada em Psicogeriatria e Mestre em Saúde
Mental
Área
de atuação/projetos/trabalhos:
Sócia-diretora
do Instituto da Mente, Pesquisadora
do núcleo de Depressão em idosos da UFRJ, Professora dos cursos Arte e
Cognição: Estimulando o cérebro através
da arte e Jogos Cognitivos, Membro da equipe e professora do curso
Neurociências da Educação do CBI of Miami e Palestrante na área de
Neurociências, Gerontologia e Arteterapia.