Hoje o blog Não Palavra
dá início ao projeto “Não Palavra abre as
portas” recebendo Mércia Maciel, estudante de Arteterapia no Rio de
Janeiro, que compartilha conosco seu estudo do livro “Arteterapia para Famílias”.
Bem vinda, Mércia!
Por
Mércia Maciel
mercia.m@terra.com.br
A partir
da minha experiência no atendimento de famílias em minha prática como
assistente social, fui atraída pelo livro “Arteterapia
Para Famílias”, da escritora norte-americana Shirley Riley, quando o vi na
estante de uma livraria, alguns anos atrás. Anos antes de iniciar o curso de
Arteterapia, já nutria muito interesse pelo uso da arte como forma de terapia.
Na época, porém, em que o adquiri, não me dediquei muito à sua leitura, pois
estava envolvida com outras atividades e fiz apenas uma “leitura dinâmica”. Hoje, com o olhar de quem estuda a Arteterapia,
resolvi relê-lo e isso realmente renovou meu entusiasmo tanto pelo atendimento
de famílias quanto pela Arteterapia em si.
Apesar
de ser um tema discutido há décadas nos Estados Unidos, a rica troca de saberes
entre as duas áreas se mostra mais do que nunca um território fértil para a
pesquisa, importante para própria produção teórica em Arteterapia - uma vez que
é, ela própria, resultado de uma interseção de saberes - na discussão daquilo
que lhe é específico teórica e metodologicamente, como também na identificação
de novos campos de trabalho. O desafio dos arteterapeutas, mais do que isso, é
fazê-lo de modo a não compartimentalizar esse saber, como convém à verdadeira Transdisciplinaridade*.
Neste
texto trago a resenha do livro “Arteterapia
para famílias” de Shirley Riley, lançado no Brasil pela Summus Editorial, São
Paulo, 1998.
Arteterapeuta
e terapeuta de família, a autora parte do objetivo de demonstrar seu entusiasmo
pelo processo de Arteterapia Clínica integrada às teorias de prática familiar. Ao
longo de todo o livro ela apresenta discussões de casos que ilustram sua prática,
ao mesmo tempo que articula com clareza a teoria que a sustenta, numa
perspectiva de caso a caso.
Outro
ponto importante do livro é a preocupação da autora com a dimensão social do
comprometimento profissional no tratamento com sua clientela, propondo soluções
práticas para as demandas do atendimento na esfera pública.
Sendo
a publicação original do livro nos Estados Unidos do ano de 1994, seu potencial
de instigar trocas entre os campos de saberes continua muito atual, na medida
em que propõe o exercício de uma transdisciplinaridade possível e necessária
diante dos desafios diários que suas práticas profissionais apresentam.Como
arteterapeuta e terapeuta de família, Shirley Riley desafia, por exemplo, a
noção de que as palavras usadas em Arteterapia não são essenciais e, baseada em
sua longa experiência clínica, nos convida a renunciar às velhas metodologias e
ir ao encontro do que considera um modo pós-moderno de pensar e conduzir a
terapia.
O livro se divide em
três partes:
1-Arteterapia Familiar: integrando
a teoria e a prática. Apresentando-se como adepta do Construtivismo Social, a
autora reflete sobre sua prática, demonstrando como as ilustrações das histórias
das famílias podem construir a essência da terapia. Assim, passeia pelos
principais autores em Terapia Familiar e suas teorias, sempre na perspectiva de
que, a partir das produções de arte de cada família, poderá não só fazer um
diagnóstico mais rápido e efetivo, como também entender a melhor abordagem
teórica e metodológica a ser utilizada com cada uma. Baseada em sua longa
experiência como arteterapeuta e terapeuta de família, prefere adotar uma
postura que pode ser considerada eclética, no sentido pós-moderno do termo,
criando em “co-autoria” com a família, através da produção desta, o melhor
caminho a ser seguido.
2- Trabalhando com populações específicas: Apresenta
desafios específicos no tratamento: famílias com membros com deficiência, a
terapia de grupo multifamiliar, famílias de adolescentes X pais com conflitos
não resolvidos em sua própria adolescência. Discute também a importância da Arteterapia
como tratamento de escolha com famílias que vivenciaram violência doméstica; as
razões clínicas e práticas para o uso da Arteterapia como modalidade bem
sucedida a ser incluída nos serviços ambulatoriais.
3- Arteterapia e sociedade pós-moderna: A
autora discute as mudanças sociais vivenciadas nas últimas décadas que romperam
com antigos modos de vida e se impuseram também sobre as famílias. Os diferentes
tipos de constituição familiar dos dias atuais e a necessidade de se criar
novas estratégias para responder às suas questões específicas, impondo uma
conscientização sobre a “desconstrução” de antigos modos de conhecer, assim
como a necessidade de construir novas concepções de Arteterapia para o futuro. Apresenta
também um quadro sobre a realidade do mundo dos provedores de Saúde Mental na
década de 90, nos Estados Unidos.
Todas as seções são antecedidas por excelentes
comentários da também arteterapeuta Cathy A. Malchiodi, que orienta o leitor
através dos caminhos criados pela autora em sua produção teórica.
Recomendo
entusiasticamente a leitura e a rica discussão que, acredito, será suscitada
por ela.
Caso você tenha se identificado com a proposta do “Não palavra abre as portas” e se sinta motivado a aceitar o nosso convite, escreva para naopalavra@gmail.com
Assim poderemos iniciar nosso contato para maiores esclarecimentos quanto à proposta, ao formato do texto e quem sabe para um amadurecimento da sua ideia.
A Equipe Não Palavra te aguarda!
* A
expressão citada refere-se ao conceito de transdisciplinaridade proposto pelo
filósofo Edgar Morin: MORIN, E Ciência com Consciência. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1996
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Sobre a
autora:
Mércia Maciel
Assistente Social pela UFF (1994),
pós-graduanda em Arteterapia e Processos de Criação pela UVA.
Experiência como assistente social:
atendimento de família, dependência química, e crianças em situação de abuso.