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quinta-feira, 28 de agosto de 2014
segunda-feira, 18 de agosto de 2014
DALI E A JORNADA TERAPÊUTICA
Por Eliana Moraes
Ontem visitei a exposição de Salvador Dali no CCBB Rio de
Janeiro e hoje gostaria de dedicar o espaço de reflexão do blog a este artista
tão rico! Destaque para o seu Manifesto logo na entrada, com o título: “Declaração
da Independência da Imaginação e dos Direitos do Homem à sua Própria Loucura”.
Porém, aproveitando o ensejo, hoje gostaria de
compartilhar o “encontro” que vivi com uma das obras de Dali, pouco conhecida,
pouco divulgada, que ilustra este texto, chamada “Batalha nas Nuvens". Este encontro se deu quando me dei conta que ali estava
representado em imagem, aquilo que eu estava vivendo em minha análise pessoal.
Uma grande potência de emoção me tomou, levei o livro com a imagem para o meu analista
e bastante emocionada, só conseguia repetir: é isto que estou fazendo aqui.
Acredito que posso afirmar - por teoria e por experiência
pessoal e clínica - que as imagens produzidas por artistas ao longo da história
são um excelente instrumento projetivo ao arteterapeuta. Ali estão expressados, materializados
e “coisificados” conteúdos profundamente humanos. E ao observarmos e
aprofundarmos o olhar para estas imagens, poderemos projetar conteúdos pessoais
que ainda não tivemos condições de traduzir em palavras. Quando nos
aprofundamos no estudo da potencialidade do conceito de projeção,
poderemos responder a pergunta “O que esta imagem significa?” com “Está nos olhos de quem vê!”.
Para mim, esta tela significou “o retrato da jornada terapêutica”.
Há uma porta em que alguém entra, transforma-se em “menina” (pois dentro desta
sala não existem nomes, títulos, referências, apenas um sujeito), se senta e
como um filme começa a revisitar sua biografia, seus conflitos, suas dores,
suas batalhas internas. Estas batalhas não são “concretas ou corporais”, não é
feita de armas ou bombas. Mas existem e são feitas de nuvens porque são de
outra ordem. E nuvens podem se dissipar com o sopro do vento.
Estas batalhas precisam ser revistas e repensadas e este
processo já significa outra batalha, porque revisitá-las dói. Precisa ser feito
em um ambiente seguro, acolhedor, por isso do lado de dentro da porta. Mas esta
porta também é de saída, pois não é
saudável que se entre neste lugar, tranque-se a porta e ali permaneça-se contemplando as
batalhas de forma inócua. Entrar nesta sala significa rever, repensar,
ressignificar e se preparar para a vida que continua fora da sala.
Do que meus olhos viram nesta imagem, ficam para mim duas
coisas: da responsabilidade que tenho comigo de repensar “minhas batalhas em
nuvens” e da responsabilidade que tenho com meus pacientes de proporcionar-lhes
um lugar seguro para este repensar e que eu esteja ao lado para acompanha-los
nesta jornada.